"Emergência pode ter tirado controle dos pilotos", diz perito sobre acidente com o voo 447
Para o especialista em acidentes aéreos, Roberto Peterka, perito que atuou no caso do acidente envolvendo um avião da Gol e um jato Legacy, em maio de 2006, a teoria apresentada pelo jornal francês "Le Figaro", de que o acidente com o Airbus 330 da Air France, em 31 de maio de 2009, foi decorrente de uma falha humana, é possível. Mas para ele, a situação de emergência pode ter tirado o controle dos pilotos.
Nesta terça-feira, o jornal francês “Le Figaro” voltou a publicar um artigo reforçou a tese em um artigo publicado hoje em sua página na internet. Citando uma fonte do governo francês, o jornal voltou a defender que, segundo as primeiras avaliações de uma das caixas-pretas, o que provocou o acidente que matou 228 pessoas não foram falhas no sistema da Airbus, e sim o erro da tripulação.
“Falhas humanas vão aparecer, com o tempo, em cada caso de acidente aéreo”, diz Peterka. Ele diz que a versão adiantada pelo jornal francês é “possível”, mas é preciso deixar claro que isso não implica dizer que os pilotos tiveram a intenção de errar.
“O erro humano sempre vai acontecer, mas nesse caso, é preciso dizer que a tripulação, se errou, não agiu com intenção. Houve uma situação de emergência, uma sucessão de problemas no sistema que fugiu do controle dos pilotos”, diz Peterka.
O perito afirma que o Airbus 330 é, em termos tecnológicos, o avião mais inteligente do mercado, que praticamente, “executa sozinho um voo”.
Sobre a investigação, Peterka acredita que o fato de técnicos da empresa participarem da investigação não compromete o caso.
“É normal chamar o fabricante em casos como este. É importante lembrar que o BEA (sigla em inglês para o Escritório de Investigação e Análise para a Aviação Civil, encarregado de investigar o caso), assim como o Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáutico), no Brasil, não têm finalidade criminal, ou seja, eles não procuram culpados, apenas investigam o que aconteceu”, diz Peterka.
Para ele, apesar do tempo passado embaixo d’água, é bem provável que as informações contidas nas caixas-pretas estejam intactas e forneçam as informações necessárias para descobrir as causas do acidente.
Ontem, as informações divulgadas pelo “Le Figaro” foram criticadas pelo BEA, pelos familiares das vítimas e também pelo Sindicato Nacional dos Pilotos de Linha francês (SNPL).
Em nota, o sindicato disse “repudiar as informações divulgadas horas depois das primeiras leituras dos registros” e que “não aceita que os pilotos mortos nesta catástrofe sejam jogados à opinião pública antes de uma análise exaustiva de todas as causas do acidente".
Nesta quarta-feira, a direção-geral da polícia militar francesa informou que os resultados dos testes para extrair o DNA das duas vítimas resgatadas do voo AF 447 da Air France são positivos, o que irá permitir a identificação dos corpos e também a continuidade das operações para retirar novos restos mortais do Atlântico. A Justiça francesa havia informado às famílias das vítimas na semana passada que se os corpos não pudessem ser identificados, não haveria novos resgates.